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DEPRESSÃO NO IDOSO

Há algo no olhar e na disposição das mãos daquele senhor que aguarda uma tradução. Ele não come, queixa-se de FRAQUEZA e de uma TONTURA que não segue nenhum padrão conhecido. As roupas mais largas revelam uma história de PERDA DE PESO e um familiar mais preocupado certamente questionaria a possibilidade de um câncer.

O médico, por meio de perguntas e gestos acolhedores, tenta uma aproximação. No entanto, as respostas, não fluem. Orbitam entre indecisos “não sei” e períodos de silêncio repletos de sentimentos. Finalmente, ele se queixa da MEMÓRIA:

 

- Não poderia ser Alzheimer, doutor?

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DEPRESSÃO NO IDOSO

Uma doença silenciosa

         A depressão no idoso apresenta algumas CARACTERÍSTICAS DISTINTAS daquelas que ocorrem no adulto. Com frequência, assume formas com sintomas mais discretos e menos específicos, podendo-se FACILMENTE SER CONFUNDIDA COM OUTRAS ENFERMIDADES.

         Muitos idosos não dizem que estão tristes, mas se queixam de DORES PELO CORPO, FRAQUEZA, FADIGA, PERDA DE APETITE E DE MEMÓRIA. Não é raro o próprio paciente não perceber que está com depressão, atribuindo seus sintomas a causas físicas ou ao próprio envelhecimento. A aposentadoria, a saída dos filhos de casa, a PERDA de entes queridos e a DIFICULDADE DE ACEITAR AS MUDANÇAS do corpo e do papel que desempenha na sociedade são algumas das SITUAÇÕES MAIS comumente RELACIONADAS à depressão no idoso. No entanto, também pode apresentar raízes biológicas como, por exemplo, na depressão vascular.

 

         Já a RELAÇÃO da depressão COM A DOENÇA DE ALZHEIMER, pode adquirir diferentes contornos: a depressão no idoso pode ser tanto um diagnóstico alternativo a doença de Alzheimer como pode ser uma de primeiras manifestações. Além disso, sabe-se que DEPRESSÃO NÃO TRATADA AUMENTA O RISCO DE DOENÇA DE ALZHEIMER.

          Pela sua complexidade e pelas suas diversas complicações, DA PERDA DE FUNCIONALIDADE E QUALIDADE DE VIDA ATÉ O SUICÍDIO, a depressão no idoso é uma doença que necessita de reconhecimento precoce por parte da família do paciente.

 

          Portanto, tal como em um iceberg, na depressão no idoso, grande parte dos sintomas podem ser de difícil percepção: tristeza e desesperança podem não são evidentes. Às vezes, tudo que avistamos são SINTOMAS FÍSICOS ou PERDA DE MEMÓRIA. Somente por meio de EMPATIA, escuta ativa e consultas sem pressa podemos emergir o sofrimento do paciente e tratá-lo adequadamente.

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SUICÍDIO NO IDOSO

O silêncio depois do silêncio

- ELE SEMPRE FOI TÃO FORTE, disse a filha ao canal de notícias.

 

Ela havia recém vivenciado uma súbita e inesperada redefinição do valor das coisas e das certezas que (achamos) que temos. Mas seu pai não estava mais lá para confortá-la.

Experimentou dias sem cor e uma ausência mais indesejada do que a mais desconfortável das presenças. Mas seu pai não estava mais lá, para preencher o vazio.

Intranqüila e insone, as horas não só não passavam, como pareciam se repetir. Não percebeu os sinais que seu pai havia demonstrado, lembrava-se bem apenas das diferentes formas que ele usava para afirmar que “EU NÃO QUERO INCOMODAR”.

E, ela, em meio a palavras não-ditas, a angústia do “E se...” e diversas questões que nunca serão respondidas, sente uma delas se sobressair:

- POR QUÊ?

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          À primeira vista, o suicídio no idoso soa paradoxal. Afinal, presumimos que por já ter vivenciado e superado muitos percalços da vida, não haveria motivos para tomar atitude tão definitiva.

No entanto, a terceira idade pode reservar inúmeros desafios, tais como:

Fim da vida profissional, viuvez, falecimento de amigos, dificuldades financeiras, limitações físicas, gastos elevados com saúde e perda da autonomia.

          Não é raro o idoso perder o seu poder de decisão no contexto familiar e passar a ser dependente financeiramente dos filhos. Ao perder a voz e o espaço, pode experimentar um comprometimento de seu senso de utilidade e propósito.

 

          Lamentavelmente, o período da vida com maior ocorrência de suicídio é na terceira idade, sobretudo em indivíduos do sexo MASCULINO. Seguem CINCO dados alarmantes:

1) Entre os idosos há uma tendência muito maior de que o suicídio seja um ato previamente planejado, ao invés de impulsivo. Os métodos utilizados geralmente são mais letais;

2) Nos adolescentes, entre cada CEM tentativas, uma termina em morte. Nos idosos, uma em cada QUATRO. Entre homens IDOSOS, uma em cada DUAS;

3) Proporcionalmente, suicídios são mais freqüentes entre idosos com mais de OITENTA ANOS do que naqueles com 60-79 anos.

Um estudo com IDOSOS CENTENÁRIOS sugeriu que o suicídio nesta faixa etária é mais freqüente, proporcionalmente, do que nos idosos mais jovens;

4) Não é só depressão e doença mentais que aumentam o risco de suicídio. Doenças como incontinência urinária e dor crônica também. Um estudo sugeriu que em HOMENS IDOSOS, dor crônica aumenta em DEZ VEZES o risco de suicídio;

5) Idosos relatam desejo de morrer com menos freqüência que os jovens. Mesmo quando questionados ativamente, tem maior chance de minimizar ou negar a ideação suicida.

 

         Desavisadamente, o idoso sofre num silêncio, repleto de desesperança. A sensação de ser um fardo para família, o “não quero incomodar” pode ser uma forma de mascarar um incômodo impossível de suportar.

Assim, valorizemos o sofrimento do outro a todo o tempo. Auxiliemos os idosos a construírem objetivos a longo prazo, cultivar amizades e em suas buscas por um propósito.

A CULPA E ARREPENDIMENTO NÃO TEM EFEITO ANTISUICIDA.

A EMPATIA SIM.

 

Humberto Amadori - médico geriatra

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